As antologias entraram na história das publicações capixabas há 162 anos quando, no Ano da Graça de 1856, José Marcelino Pereira de Vasconcelos organizou a primeira coletânea reunindo escritores capixabas, o Jardim poético ou coleção de poesias antigas e modernas, compostas por naturais da província do Espírito Santo. Quatro anos depois, em 1860, viria a público o segundo volume. José Marcelino demonstrava conhecer o valor do que estava fazendo, consciente do futuro que sobreviria à sua antologia, mas revelava dificuldades na sua organização, quando, no prólogo, escrevia: “Um serviço importante presto nesta publicação à minha província; mas só o reconhecerão, depois que decorrerem séculos”. De fato, sendo a primeira, e numa terra cheia de dificuldades para a edição de um livro, não é difícil prever as dificuldades que ele enfrentou. Mas é inegável que, graças a seu esforço, preservou-se até nossos dias a memória de vários intelectuais e escritores que, de outra forma, teriam sido consumidos pela fumaça impiedosa do esquecimento. Leia
“Minha presença aqui é afetiva e não acadêmica. Nunca frequentei academias, somente aquelas nas quais meus sinceros amigos eram infiltrados. No gênero, gostava mesmo de frequentar bibliotecas, e alguns arquivos, na infância e juventude. Sempre fui um curioso, e não pesquisador ou estudioso. Não sou escritor, mas sempre usei a máquina de escrever para produzir muitas laudas de críticas e crônicas sobre música na imprensa local. Leia
Neste trabalho, pretendemos percorrer algumas trilhas neobarrocas da obra Aninhanha, de Pedro José Nunes. Seguiremos traços conceituais, atentos à imponência do caminho e às flores que o bordejam: trata-se de figuras de estilo e de recursos estilísticos que embelezam a composição do ramalhete. Restringimo-nos à colheita das flores que enfeitam barrocamente as inúmeras sendas que se dispõem diante de nós. Tropeçamos em hibridismos linguísticos, escorregamos em distorções sintáticas, mas percorremos prazerosamente as trilhas que conduzem ao objetivo proposto. Devido à polissemia da obra, deparamos com inúmeras possibilidades de atalhos, nos quais corremos o risco de nos perder antes de retomar o caminho principal. Às vezes ficamos desnorteados diante de uma escritura labiríntica, fragmentária e hermética. Escolhemos apenas algumas “trilhas mais batidas”, ou seja, mais recorrentes e/ou relevantes, segundo nossa leitura, que, como toda leitura, é incompleta e lacunar. Leia
Há, em uma obra de arte, uma integração com as outras obras do universo literário. O estado de legibilidade está no agrupamento da repetição, o que Julia Kristeva denomina “intertextualidade”. E, como é dentro de um sistema que se pode compreender melhor uma criação, juntamos aqui um terceto de escritores latino-americanos no gênero narrativo, reunidos não por usarem o mesmo código linguístico, mas por terem particularidades formais e temáticas semelhantes. Dois deles mundialmente conhecidos, o nicaraguense Rubén Darío e o argentino Jorge Luis Borges e um pertencente à literatura periférica, a do Espírito Santo, Luis Guilherme Santos Neves. Este último seleciona motivos de Borges e os (re)escreve. Porém, no entrecruzar das semelhanças e diferenças, apresenta-nos um texto original. A sua dívida aos dois escritores latino-americanos advém não da intenção de dependência cultural ou de um desejo de mutilação, mas de um diálogo declaradamente expresso com o argentino. Nele, via literariamente histórica, o horizonte periférico se estende até o escritor nicaraguense, impregnado de ideologia colonizadora. Com a técnica de reescrever Borges, o capixaba identifica-se, via Darío, com o universal. Dilacerando uma escritura, afirma a sua. Leia
Em 1860, alguns meses depois de D. Pedro II visitar o Espírito Santo, o fotógrafo francês Victor Frond, acompanhado do escritor e compatriota Alexandre Jouanet, repetiu grande parte do roteiro seguido pelo imperador. Seu objetivo era o de fotografar diferentes aspectos da terra capixaba para um projeto do governo imperial visando à publicação de um livro que, todavia, não se efetivou.
Mais de cento e cinquenta anos depois o historiador Cilmar Franceschetto lança a obra Victor Frond 1860 (*) em que rastreia as pegadas do francês na captação das que são consideradas as mais antigas fotos paisagísticas do Espírito Santo (dezesseis ao todo), datadas de meados do século XIX. Leia
Antonio Dias Tavares Bastos. Certamente, você nunca ouviu falar nesse nome. Sinceramente, nem eu, há algum tempo. Engolido pela poeira da História, deparei-me com o nome de Tavares Bastos, pela primeira vez, lendo o “Mapa da Literatura Brasileira produzida do Espírito Santo”, do escritor Reinaldo Santos Neves, publicado no site “Estação Capixaba”. Desde então, luto para fazer o nome de Bastos reluzir novamente. Leia
Em diálogo com Ernesto Sábato, Borges afirma, referindo-se ao fato de que o Dom Quixote é muito mais do que uma sátira contra o romance de cavalaria, assim: “Se ao final, quando termina a obra, o autor pensa que fez o que tinha se proposto, a obra não vale nada”. A frase diz respeito ao processo de criação de um texto literário que, certamente, deve partir de um planejamento, um roteiro, uma pesquisa, mas seu autor também deve permitir que o processo em si o leve a caminhos nunca dantes navegados, que seu processo lance luz sobre o desconhecido, que ele surpreenda a si mesmo e que não se torne refém do próprio discurso. Leia
A revista Ímã, criada e editada por Sandra Medeiros, foi um marco das publicações periódicas no Espírito Santo. A revista, que alcançou cinco edições, teve seu primeiro número lançado em 1985 e, mesmo após mais de trinta anos de seu surgimento, continua sendo uma referência nas artes gráficas, figurando como uma das mais importantes publicações do Estado. Há alguns anos sua idealizadora conversou com o escritor Pedro J. Nunes a respeito de seu amor pelo livro e pela leitura e de suas atividades editoriais. E, claro, muito sobre a revista Ímã. Esta conversa é publicada aqui, na íntegra. Leia
Iracema Moraes de Matos era minha tia-avó, e de fato avó social, pois criou três dos seus sobrinhos: meus tios Dicamor e Pedro, e minha mãe Felisbina (Bina), órfãos de pai e mãe desde bem pequenos. Vovó Iracema era casada com Arnulfo Matos e muito amiga de Maria Stella de Novaes, a quem chamava de Stellinha, e que a mencionou em seu livro A mulher na história do Espírito Santo. Ainda criança, conheci dona Stellinha no apartamento dos meus avós, no quarto andar do Edifício Presidente, no centro de Vitória. Logo me encantei com aquela pessoa diferente, que falava de modo distorcido e num tom alto, por ser surda. Com cabelos curtos, mais brancos que grisalhos, de porte empertigado e com voz firme, a figura de dona Stellinha nunca mais me fugiu da memória, devido também às constantes referências que a ela faziam meus familiares. Leia
Kitty tem 22 anos e, como toda garota de 22, vive para se divertir. Frequenta baladas, dá as caras em blogs e fotologs, seduz quem lhe passa por perto, dirige um Audi, comunica-se por gírias, é gostosíssima e debocha de tudo e de todos - não é assim que uma mulher se diverte? Claro que a expressão divertimento, a que o autor do romance se refere, relaciona-se à música: divertissement é gênero musical com trezentos anos nas costas e revela-se sempre alegre e despreocupado. Kitty é assim, pelo menos até certo ponto. Até perceber que o mundinho fútil em que vive - e do qual ela só não é peça descartável porque Reinaldo Santos Neves não deixa - desmoronaria com um espirro. Leia
Um romance é uma criação literária narrativa de forma complexa, segundo conceituação de André Jolles, podendo ser constituído de variados discursos de formas simples - lendas, causos, chistes, cordéis -, o que o caracteriza como uma narrativa dialógica ou polifônica, conceito divulgado mundialmente em seu clássico e já quase secular Problemas da poética de Dostoiévski. Bakhtin conceitua o romance moderno como dialógico, pois é um tipo de texto em que diversas vozes sociais se presentificam e se entrecruzam, relativizando o poder de uma única voz condutora. Leia
Quero começar a contextualização da série Letras Capixabas pelas afirmações de Hallewell a respeito da situação do livro no Espírito Santo, neste século, para que melhor se vislumbre a situação de penúria e miséria editorial neste Estado até a criação da editora da Fundação Ceciliano Abel de Almeida-UFES, em novembro de 1978, cujos objetivos gerais eram “a redução do grande vazio editorial capixaba, publicando obras que venham enriquecer o patrimônio científico e cultural do Espírito Santo”. [2] Leia
Samuel Johnson, cidadão inglês do século XVIII, e Lêdo Ivo, brasileiro que viveu entre os séculos XX e XXI, não se entenderiam a respeito de biografias. Enquanto aquele estabelecia que “ninguém pode escrever a vida de um homem a não ser que tenha comido, bebido e convivido com ele”, este, bem ao contrário, acreditava que “a maioria dos biógrafos empenha-se em explicar a obra a partir da vida, quando o correto é exatamente o contrário: trata-se de explicar a vida a partir da obra”. Verdade, verdade mesmo, é que nessa sopa há várias colheres, e não há quem se entenda sobre essa questão.
Do alto de sua bem constituída reputação literária, depois de publicar meia dúzia de títulos de ficção, é chegada a hora e a vez de Francisco Grijó se aventurar pela biografia, publicando esse aguardado livro Os Mamíferos: crônica biográfica de uma banda insular. Leia
Ninguém discute que o que diferencia a literatura da não-literatura é a linguagem - e é justamente ela, instrumento essencial, que, lato sensu, determina as estéticas, adequando-se a um determinado momento histórico ou refletindo-o, como um espelho verbal. Há alguns dias elegi como livro da semana o clássico 26 poetas hoje, organizado por Heloísa Buarque de Hollanda, livro considerado por muitos o resumo quase bíblico de uma geração chamada "marginal", cujos integrantes - muitos deles, ao menos - compõem o panorama "estabelecido" da poesia brasileira, encaixados que foram num modelo que enquadra e rotula tendências e comportamentos. Leia
Roberto Almada (1935-1994), professor, crítico literário, dramaturgo, contista, romancista e poeta, nos deixou, também, comentários jornalísticos. Alguns de seus livros continuam inéditos. Em 1985, ganhou o Prêmio “Geraldo Costa Alves” com a obra O País d’el Rey & a casa imaginária, publicada, no ano seguinte, em 1986, pela FCAA-UFES.
Almada era escritor, mas um bom leitor. Apreciava os escritores ingleses, franceses e os hispânicos. Leia
Coluna de Luiz Guilherme Santos Neves, com contos e crônicas inéditos.
Coluna de Ivan Borgo, com textos inéditos e crônicas publicadas em seus dois livros: Crônicas de Roberto Mazzini e Novas crônicas de Roberto Mazzini.
Coluna de Pedro J. Nunes, com textos inespecíficos inéditos ou já publicados esparsamente em jornais e revistas.
Coluna de Caco Appel, com impressões de leituras de livros publicados por escritores capixabas.
Livros integrais inéditos e já publicados de autores capixabas.
Escritos afetivos sobre nossa geografia, história, cultura, turismo, tudo que sejam fatos e coisas do Espírito Santo.