poema descartável

Eduardo Madeira

 

os sentimentos humanos
vis
torpes
nobres
sublimes

são todos desprezíveis
para a terra

que há de comê-los inteiros
sem distinção
havendo batido ou não
teu só-mais-um
coração

os sentimentos humanos
nascem tortos
e se endireitarão
a toda forma
nos jazigos
nas valas comuns
ondem não existem
partidos

os sentimentos humanos
sublimes
ou profanos
não passam de poeira
reles poeira ou grão
que a grama há de encobrir
e então partir-se-á toda fleuma
que padece a emoção em seu devir

tente perguntar à pedra
o significado da inveja
da angústia
e da cólera
verás que não passam
de distração
verás que o sagrado
é do chão
verás que toda paixão
é em vão

verás que o que escrevo
são como meras
quimeras
de enganos
palavras não são mais
que pirilampos
que fazem dos campos
um céu de estrelas
cadentes ou não
as estrelas também se vão

e o que nos resta
o amor
o ar
a comida
mas sobretudo
a indiferença
quase divina
do escuro que abre e fecha
a vida

 

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