Em meu primeiro documento textual acadêmico, o Projeto de Graduação, hoje chamado Trabalho de Conclusão de Curso, TCC, eu fiz uma dedicatória ao meu avô paterno, o médico Maurício Lordello. Foi com ele que tomei o gosto pela literatura, pelos jornais, e pelo rádio.
Com sua prima e esposa, minha avó paterna, Mariá, costureira, pintora, bordadeira, fui aprendendo a amar a pintura, o que devo também à minha tia e madrinha Joselice Lofêgo. Este meu trabalho acadêmico chama-se “Cidades e subjetividades”, e nele eu abordei a cidade como musa, da literatura, do cinema e da música.
Sei que não estou sozinha nisto! O nosso caro confrade, Getúlio Marcos, dedicou à sua avó Doralice, ávida pesquisadora, o livro Estudos de cultura espírito-santense II, obra primorosa, que traz, na capa, a imagem, em sépia, de dona Doralice.
Ilustrando agora com um livro infantil internacional, convoco Patrícia, a menina que não tem a chance de expor aos pais os seus pensamentos e sentimentos, recorrendo para isso ao seu avô, leitor que bem sabe ouvir. Como vocês podem ver nesta ilustração, o avô soube acolher os mais variados temas expostos pela menina.
No Brasil, nunca é demais lembrar, temos Monteiro Lobato, criador da sábia avó, Dona Benta, leitora e narradora para um público especial: seus netos Pedrinho e Narizinho, e nossos velhos conhecidos Visconde de Sabugosa e a boneca de pano Emília.
Pois bem, o livro do Espírito Santo que aqui passo a apresentar é justamente uma narrativa de avô para neto – a obra Quando o Penedo falava, de Elpídio Pimentel. Nascido na Serra, em 14 de setembro de 1894, Pimentel foi jornalista, advogado e professor, e primeiro ocupante da cadeira 12, do patrono Gonçalo Soares da França, na Academia Espírito-santense de Letras. Já amplamente conhecido em Vitória, onde então residia, Pimentel, aos 33 anos, resolveu escrever este livro destinando-o ao público adolescente.
No linguajar da atualidade, por seu conteúdo, esta obra poderia ser classificada como um livro paradidático. O livro consiste de dez narrativas contadas pelo avô ao seu neto Glauro, menino atento e curioso, que interrompe as narrações a cada palavra que lhe é desconhecida, enriquecendo o vocabulário dele próprio e do seu público alvo. As narrativas sintetizam a história política do Espírito Santo, e repercutem também a história do Brasil.
Há que acrescer, no entanto, que este livro deve ser lido, hoje, com o termômetro da época em que foi lançado, em 1927, quando os governadores eram chamados presidentes do Estado, e governava o Espírito Santo o engenheiro Florentino Avidos. Diante disso, para que o livro pudesse ser apreciado na atualidade pelo mesmo público-alvo, foi feita uma adaptação para 2020, ano em que foi reeditado.
A adaptação ficou a cargo do organizador, o acadêmico e professor Fernando Achiamé, que foi meu mestre no curso de Arquitetura e Urbanismo na UFES. O livro conta também com apresentação da acadêmica e professora Ester Abreu e prefácio do acadêmico Álvaro José Silva. Com semelhante escol da literatura, este livro é mais que abalizado, e eu torço por seu sucesso entre os adolescentes deste nosso tão conturbado presente.
Esta é uma publicação de cooperação entre o site Tertúlia e o clube de leitura Leia Capixabas.
Editor responsável: Anaximandro Amorim