A folha de hera: romance bilíngue

O livro é um “mergulho” de Reinaldo Santos Neves numa viagem ao passado para nos oferecer um romance divertidíssimo. Ele não se contentou em narrar uma história de época, foi adiante: incorpora a mentalidade e escreve como um escriba daqueles tempos. Reinaldo embarca na linguagem medieval – a alguns parecerá ingênua, a muitos um texto todo errado – para nos contar aventuras (e barbaridades) em que os personagens insistem em se meter. Paixão, incesto, mortes horrendas, tortura, batalhas campais, cidades sitiadas, traição, homens honrados e outros nem tanto campeiam pelas páginas do livro.

A folha de hera: romance bilíngue foi imaginado como uma farsa, só não concretizada porque o autor “estraga tudo” ao revelar como engendrou o livro logo nas primeiras páginas. Reproduzo suas palavras no prefácio ao primeiro volume: “Esta é uma obra de ficção: um romance que se vale de uma série de falsas atribuições para dar ao leitor a ilusão de que não é o que de fato é – uma obra de literatura brasileira – e de que é o que decerto não é – um romance norte-americano até agora inédito de autoria de um nova-iorquino chamado Alan Dorsey Stevenson, cuja tardia primeira edição, dentre todos os países possíveis, se promove logo aqui no Brasil, acompanhada de tradução integral para o português feita pelo romancista brasileiro Reynaldo Santos Neves.”

Tudo começou com a publicação em 1978 do romance A crônica de Malemort, primeiro romance de autor brasileiro ambientado na Idade Média. Ali, Reinaldo começa a sua experiência na sintaxe medieval e é de lá que ele “tira” A folha de hera, vinte e dois anos depois,quando traduz Malemort, primeiramente para o inglês médio (medieval), gerando o que se chamou de An ivy leaf. Nesse momento as melhorias e acréscimos multiplicaram por quase quatro vezes o volume do texto original. Depois que o texto em inglês ficou pronto é que Reinaldo o reverteu para o português, mantendo as características do léxico e da sintaxe medievais, daí surgindo A folha de hera.

Aos que se interessarem em procurar um exemplar para seu garantido deleite aviso que isso pode ser uma tarefa difícil de cumprir, pois é uma publicação da Biblioteca Pública Estadual do Espírito Santo sem fins lucrativos. Para piorar a situação, o primeiro volume, publicado em 2011, teve a tiragem de mil exemplares e o segundo, em 2012, de apenas 600 exemplares. Fiquem atentos, porque o terceiro e último volume será lançado em 2014.

Para ajudar a localizar o romance no tempo e lugar, o segundo volume termina às vésperas da famosa Batalha de Poitiers, em 1356. Nesse enfrentamento os ingleses, com seus fabulosos arqueiros de arcos longos, impuseram uma derrota humilhante aos franceses num dos mais importantes confrontos daquela que ficou conhecida como A Guerra dos Cem Anos, aquela mesma em que, entre outras coisas impressionantes, queimaram a Joana D’Arc, mas isso aconteceu um bom tempo depois. 

 

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