Madrugada em Piedade

Compro a maior parte dos livros que leio pela internet. A decisão de adquirir um é resultado da leitura de comentários e resenhas em revistas, jornais e em sites de livros e literatura. Eu sou um rato de resenhas. Não posso ver uma revista ou jornal que logo procuro pelas páginas onde falam dos lançamentos, publicam resenhas, entrevistas com escritores, etc. Se algum livro me interessa transfiro as informações (título, autor, editora, etc) para minha caderneta moleko (das revistas velhas eu simplesmente arranco a página e levo comigo). Em casa, passo as informações para os meus “controles”, a minha lista de compras, onde decantam dezenas de títulos, todos esperando sua vez de ser comprado e lido para, finalmente, fazer parte da minha “biblioteca” - as minhas estantes de livros.

Outros, não poucos, vêm depois que a cara (capa), exibida na livraria, me convence àquela rápida folheada, à leitura da contracapa, da orelha e eventualmente do primeiro parágrafo. Se alguma coisa “bater”, e isso raramente falha, o livro vai para a caderneta, ou seja, para a fila de compras. Se a sedução for fatal, já levo comigo pra casa. Ultimamente tenho evitado as gôndolas das livrarias com todas aquelas capas e seu irresistível poder sobre mim. Em casa, a montanha de livros no purgatório, aguardando leitura, anda um tanto alta.

Raramente um bom livro cai no meu colo. Então, esse é um tipo diferente da maioria: sem resenha, sem anotações e sem fila de espera para a compra.

Madrugada em Piedade, de Álvaro José Silva, chegou com um comentário do escritor Pedro J. Nunes: “o livro é surpreendentemente bom e o Álvaro revelou-se um grande contador de história”. (Álvaro, por que escondeu o livro esse tempo todo da gente?) Resultado: sem purgatório. O livro começou a ser lido naquele mesmo dia.

Como o meu amigo Pedro adiantara, Madrugada em Piedade surpreende. Álvaro conta uma história policial, baseada em dois fatos, dois linchamentos ocorridos entre 1984 e 1986, no Espírito Santo. A partir daí, desenvolveu seu romance em uma narrativa ágil, sem muito espaço para divagações do leitor. Parece que tudo vai saindo diretamente da página de polícia de um jornal.

Sabemos o que vai acontecer e quando, mas isso não é suficiente para nos deter antes que a última página seja devorada.

Madrugada em Piedade é leitura de um só fôlego. É um folhetim, quando exige nervos de aço à medida que avançamos pelos intestinos da polícia, posta a serviço de uma comunidade descontrolada, afrontada pela violência. É um panfleto que nos inquieta exibindo o que todos nós sabemos e o pouco que se faz para mudar.

 

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