Menino

Soube pela primeira vez desse livro (meu Deus, como escrevem esses capixabas!, por mais que eu os leia sempre há mais livros produzidos por eles) quando foi divulgado pelo jornal A Gazeta o projeto da publicação de literatura capixaba encartada em suas páginas.

Minha companheira, fiel nas lides pela literatura local, como sempre, já tinha o livro e devidamente autografado. Assim que o anúncio circulou, ela bradou: “eu tenho um exemplar desse livro do Pedro J. Nunes, da primeira edição, vai querer ler?” Ela já sabia a resposta. Claro que eu queria.

Não me importei com os protestos dos outros livros, habitantes da grande pilha dos que estão esperando pela minha leitura. Deixei que o “Menino” furasse a fila.

Pedro consegue passar, com sensibilidade e precisão cirúrgica, as descobertas, as incertezas e assombros do menino que avança sobre o mundo. Faz isso sem deixar que as palavras se tornem fáceis, divertidas e sem melodramas. Ao contrário, ele brinca com elas de maneira elaborada, culta, sem descambar para o pernóstico. Ah, e as meninas que habitavam a existência daquele menino? E as mulheres, que circulavam por sua volta, nos afazeres dos cuidados maternais, ou as que o apoquentavam pelos afazeres do capeta?

Ali estão muitos dos meninos que eu conheci e muito de mim, quando andava por aquelas paragens. Não que eu tenha frequentado São José do Calçado, mas perambulava, do mesmo modo, pela minha cidade que, apesar de ficar muito longe, estava bem próxima de lá quando também me ofereceu o mundo por entre suas ruas.

O “Menino” é, sem dúvida, um dos melhores trabalhos de Pedro J. Nunes.

 

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