Era uma vez, em algum lugar do interior do Espírito Santo, quando ainda era comum manter mangas de porcos... (Sabe o que é uma manga de porcos? Não sabe? Procure no Google.)
Nesse livro, Pedro Nunes, um grande contador de histórias, nos relata da forma mais deliciosa uma confusão que aconteceu entre um pai, seus filhos, o cunhado, empregados da fazenda e os porcos que lá eram criados – a coisa envolveu especialmente um, o Teimoso.
Enquanto leio sobre o entrevero com Teimoso me lembro dos porcos da minha vida. Me dou conta de que não foram tão poucos, afinal. A primeira vez que vi um porco foi ao vivo, eram filhotes com poucos dias de nascidos e pude até pegar um dos bacuris no colo (eu devia ser também bem novo, menos de cinco anos de idade). Minha memória permite que eu reveja a cena, mas sem saber onde. Entretanto, tenho certeza de que foi em Santa Catarina, em algum lugar nas cercanias de Itajaí, coisa do meu avô, certamente. Logo em seguida me contaram a história dos três porquinhos e as péssimas intenções nutridas pelo Lobo Mau. Aquilo, de comer porquinhos, ainda não fazia sentido na minha cabeça inocente. Depois disso, não muito tempo depois, vieram os lombinhos, os pernis, as costelinhas e os porcos assados explícitos do meu tio Félix. Pronto! Eu descobrira para o que eram criados os porcos. Das galinhas eu já sabia.
Mas o que isso tem a ver com os porcos do Pedro Nunes? Ora, contando sua história ele me fez lembrar até do cheiro dos meus porcos. Ajudou a religar neurônios para minha viagem mental de volta até Navegantes. Lá ficavam os pequenos sítios dos que vinham a Itajaí trabalhar nas casas de nossa família. Lembrei do Anacleto, que tinha uma manga de porcos e me levou até lá, com direito a uma travessia de canoa pelo rio Itajaí Açu, quando eu estava nos meus sete anos. (Meu Deus! Naquele tempo todo mundo confiava crianças às mãos de todo mundo. Confiava-se até nas canoas que atravessavam aquele rio com cara de poucos amigos.)
De Navegantes também vieram alguns dos porcos que devorávamos em datas especiais. Foram eles, com alguns dos quais cheguei a brincar e conhecer pelo nome, que me ensinaram essa coisa do alimento apesar dos sentimentos. Foi naquilo que me lembro da infância feliz que encontrei o entendimento das emoções e da beleza contidas na Tarde dos Porcos.