PLOC foi o que pensei ter ouvido porque foi o PLOC que eu pensei ter ouvido que me acordou no meio da noite.
Se aquele PLOC me acordou não seria a primeira vez que soava no meu quarto. Já devia ter soado antes, só que eu não o percebera ou então ele não soara a ponto de me acordar.
Mas agora não. Agora ele conseguiu me despertar ainda que, ao abrir os olhos, eu tenha ficado em dúvida se o tinha ouvido direito ou se fora uma falsa impressão auditiva.
Estalos são comuns durante a noite, oriundos da madeira da cama ou da mesinha de cabeceira. Todo mundo sabe disso, todo mundo já ouviu, creio eu, TLACS noturnos ou, se não TLACS, alguns TLECS.
Mas um TLAC ou um TLEC não é um PLOC e era nessa diferença substantiva entre os três tipos de ruídos que eu estava pensando enquanto esperava que o PLOC se repetisse no escuro da noite.
E se repetiu.
Nem mais forte, nem mais fraco do que a primeira vez, embora no mesmo curto espaço de tempo. Um PLOC de um milésimo de segundo foi a impressão que me deu.
A fração de tempo em que o PLOC ocorreu não me permitiu identificar o local de onde partira. Mas me pareceu vir de dentro do quarto. Ao pé da cama, ou lado dela, perto da porta, junto à janela, aí não saberia dizer.
Era necessário que o PLOC voltasse a soar para que eu, estando alerta, pudesse saber onde ele estava. Eu tinha a certeza de que se descobrisse o seu ponto de partida, descobriria a sua natureza, mataria a charada que ele armara para a minha curiosidade numa hora em que eu devia estar belamente adormecido e não às voltas com um PLOC fugidio e misterioso que me tirara do sono num jogo de esconde-esconde. Literalmente um PLOC que não tinha o que fazer, a não ser azucrinar a minha paciência.
Por culpa dessa mínima distração de pensamento, escapou-me a possibilidade de descobrir a origem do PLOC quando ele se repetiu aos meus ouvidos, desta vez menos audível do que antes, mas nem por isso menos PLOC do que o PLOC que me acordara.
É lá de fora que está vindo!
Imaginei que ele viesse lá de fora, preciso esclarecer, porque meu quarto tem janela que dá para uma área externa. Como tenho o hábito de dormir com a janela entreaberta pareceu-me que dessa feita o PLOC viera de fora da casa, porém nas vizinhanças do meu quarto.
Se ele veio do lado de fora significa que já está indo embora?, perguntei à minha redobrada atenção. E fiquei à espera de que o PLOC seguinte me desse a resposta desejada.
Mas o PLOC seguinte não veio nem de fora da casa, nem de outro ponto do meu quarto. Veio, com a mesma sonoridade curta e forte dos PLOCS anteriores, do banheiro colado ao meu quarto.
Como eu seria capaz de jurar que o penúltimo PLOC que ouvi partira de fora da casa e o último soara no banheiro, de duas uma: ou o diabo do PLOC era dotado de grande mobilidade e rapidez para se deslocar de um lugar para outro ou então eram dois PLOCS diferentes que estavam dialogando no escurinho, a ponto de perturbar o meu descanso! Um PLOC lá, outro cá, e eu no meio deles.
A hipótese me deixou intrigado. Resolvi acender o abajur para uma investigação mais acurada, esperando que os dois ruídos se repetissem às claras, sob meus olhos e orelhas, para saber do que se tratava.
Foram minutos de vã expectativa. Nem PLOC de dentro, nem PLOC de fora da casa se fizeram ouvir novamente. Julgando que o caso estivesse encerrado apaguei a luz para retomar o sono.
Mal o fiz, o PLOC replicou. Ou replocou em série: PLOC, PLOC, PLOC numa provocação desaforada que não merecia ficar impune. Ferozmente acendi o abajur e saltei da cama para uma varredura investigativa à cata do maldito implicante.
Avidamente procurei-o aqui, ali, acolá. Chequei a assoviar como antigamente fazia para chamar o vento para empinar as minhas raias, na tentativa de que o PLOC atendesse ao meu apelo.
De nada adiantou. Um silêncio absoluto imperava no quarto.
Assumindo a minha frustração, desisti da busca e retornei à cama para recapturar o sono perdido. Por garantia, porém, fiquei com o abajur aceso, o que bastou para que o PLOC não se repetisse e eu dormisse como um justo.