Os dias ímpares

Faz tempo que li o livro de poesias de Sérgio Blank, Os dias ímpares. Quase dois anos. Isso será complicado para digerir, pensei naquela ocasião com a cabeça de quem não tem o hábito de ler poetas e pouco, quase nada, sabia daquele. Mas me sentia obrigado a ler aquilo por amor a E, amiga do poeta. Pois bem, li o livro todo! E daí? Poderia perguntar alguém que tivesse testemunhado minha confissão de perplexidade. Mas eu estava só e ainda confessei silenciosamente. Mesmo assim respondo: ora, era “apenas” o primeiro livro de poesias que eu conseguia ler, inteiro, todas as folhas, todinhas!

O que vi naquelas páginas que não havia visto antes? Tudo, nunca havia conseguido me concentrar em poesias. Muito menos um livro inteiro. Não posso tecer um comentário técnico, nem uma crítica ao trabalho do poeta, por total desconhecimento do que diz respeito a versos, estrofes, rima ou ritmo. Mas, aqui posso escrever o que quiser. Só tenho o compromisso de passar para os leitores aventureiros, que se arriscam nos meus escritos, aquilo que melhor traduz minhas impressões e emoções, o que resta, enfim, da leitura daquilo que minhas mãos alcançam.

Me cativou a astúcia, perene em cada linha dos versos que minha vista percorreu. Tudo parece muito sincero. Por vezes terno, mais vezes ácido, irônico ou dolorido, mas sempre quando deveria ser. Nunca percebi versos ocos, facilidades emocionais, hipocrisia.

Os dias ímpares tocava nas minhas entranhas, se posso dizer assim, desde seus primeiros versos. Parecia que à medida que passava de um para outro uma figura se agitava dentro do peito. Algo se movia, como se a cada avanço na leitura resultasse na agregação de uma porção de massa num molde em desenvolvimento.

Confuso? Provavelmente, mas essa foi a melhor descrição do que sentia enquanto devorava aqueles escritos. Que figura era essa, afinal, que se desenvolvia em mim? Nunca soube. Porque da mesma forma que poemas me apertavam por dentro, outros geravam o alívio.

Sergio Blank é generoso e tem escrita inteligente, ladina, desconcertante, que me conduziu pela sua leitura com interesse e prazer.

 

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