Cidadilha

O que significa Cidadilha? É a primeira pergunta que eu, leitor animado, me fiz e que foi logo na primeira página respondida pelo autor, que não parece preocupado em estabelecer mistérios ou mal entendidos além dos que relata acontecidos aos incautos visitantes de Cidadilha.

O livro de Luiz Guilherme Santos Neves conta histórias de lugares pitorescos na tradição urbana de uma cidade inexistente (que hoje se chama Vitória), assim diz ele. É leitura de um só fôlego, de não largar o livro até o final. Isso se não sofrer algum mal mais grave do que riso frouxo, que me fez perder a respiração, que depois me devolveu em asma. Leitura de qualidade e maravilhas, macunaímica, da mui cab’chaba moqueca cultural. Imagine que cheguei a visualizar nosso caro autor como uma daquelas figuras que ganhavam o pão desfiando nas cortes, diante dos senhores e seus vassalos empinados, suas ironias para o riso e o desopilo, em equilíbrio, sobre fio de navalha, entre a esperança pela gargalhada real ou o pavor do “cortem-lhe a cabeça”. Juro por deus que não imaginei ninguém trajado de bufão nem com qualquer adorno que sugerisse um provável ruído de guizos.

A Cidadilha é uma cidade de outros tempos, mas não muito distantes dos de hoje. Ai, ai, ai que eu – que por aqui tenho morado - sempre ando distraído por ali, por esses mesmos logradouros que há bem pouco tempo atrás, pouquíssimo aliás, vitimavam turistas e moradores distraídos. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Nunca mais vou poder enveredar por esses mesmos lugares sem a forte contração cardíaca de iminente surpresa desagradável como uma escorregada, o estabaco, o ir ao chão ouvindo a “cantiguinha humilhante” dos moleques da Ladeira do Quebra-Bunda.

Nunca antes a palavra logradouro significou o que parece sem ser: lugar onde acontece o logro.

Pior ainda é perguntar por informação que me salve da dúvida e da perdição no meio da Cidadilha de tantas ruelas tortas que parecem ir ao nada e de volta. Daí, ouvir de um cidadão a resposta entoadinha e marota: “Onde? No cu do conde. Sabeis adonde?”

 

Leia outros textos