Nascentes e rios

Há aquela torrente descendo por um flanco dos Andes chilenos. Um cristal de água esbanjando beleza e, lhe parece, portando um faceiro “nem te ligo”. 

Mas não são apenas esses grandes números teatralmente encenados pela natureza que fascinam. Há, por exemplo, as modestas nascentes que atravessam primitivas estradas de terra. Veja que a nascente esteve sempre ali naquele lugar convivendo em sossego com os bichos da mata, passando pela vegetação, vizinhos desde o começo dos tempos. Então, veio alguém da sociedade dos homens que, por necessidade, abriu um caminho para ir além e a encarou. A situação é patética com pessoas e veículos de toda espécie passando por cima da nascente, inclusive carros de boi, com suas rodas rangentes, que a sulcam e quase a fazem mudar de direção. Como acontece algumas vezes, é possível que um representante da sociedade humana resolva depois fazer um buraco por baixo do pequeno curso d’água para que ele saia do outro lado. Enquanto isso não ocorre, ele não se entrega. Passa uma pessoa e pisa nele. E daí? Ele pode até mudar um pouco de rumo, mas continua cortando a estrada com rebeldia. Há uma bela nascente no interior de Marechal num lugar chamado Alto de Nova Almeida que corta a estrada com certo ruído e talvez queira proclamar que a intrusa não é ela, mas a estrada e quem por ela passa. No tempo seco você a atravessa com facilidade e não liga para seus resmungos. No tempo chuvoso é diferente, porque a corrente aumenta muito e dificilmente você se livra dos respingos se não fechar a janela do carro. Outro exemplo de nascente cortando a estrada foi visto ainda no outro dia nos territórios misteriosos da Mata Fria. Chegava a dar pena, porque era um fiozinho d´água bem desanimado, até com dificuldade de passar para o outro lado. Tomava fôlego com algumas poças formadas pelos cantos. Talvez, pela força diminuta, seque definitivamente daqui a pouco. Por enquanto está lá, pobrezinho, certamente lamentando esses tempos de hoje.

Rios? Há o Amazonas e o encontro das águas com o Rio Negro. Mas o fenômeno nem precisa ser mais falado. Sua fama já está em Hollywood e arredores. Não é preciso repetir todos aqueles chavões. É uma paisagem deitada na rede, talvez até com certa obesidade e que não precisa de um escrevinhador para falar de suas belezas. Mas já que Hollywood foi lembrada, não sei se alguém já disse daqueles rios rasos e empedrados dos bons filmes de caubói. Rios tão gostosos de ver que a sede vinha instantânea. Águas que geralmente desciam das faldas das Montanhas Rochosas e deslizavam diante de nossos olhos gulosos. 

 

Leia outros textos